quinta-feira, dezembro 09, 2010

De novo no activo!

Finalmente recuperei a paciência e tempo para voltar a escrever aqui no blog que só existe quando é visto!

Todos os comentários são benvindos!


Porque me sinto cansado...

José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou. Deve-me dinheiro. António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP. Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano. Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5 das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil. António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia. A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro. Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI. Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada. Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado. Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro. Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D. Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo. Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem. Muito mais. Já.

Mário Crespo

domingo, junho 03, 2007

A agricultura

A agricultura é uma actividade que cada vez mais se degrada em Portugal.

Talvez seja essa a causa do esquecimento nas zonas mais cosmopolitas de um fenómeno basilar desta actividade outrora importante. Quando um agricultor pretende atingir um objectivo em termos de colheitas, geralmente investe na sementeira, e conforme a qualidade das sementes, e se lhes forem dadas as condições adequadas, estas desabrocharão numa planta saudável, com frutos de qualidade e em quantidade.

Ora esta metáfora ilustra de forma simples o funcionamento dum mercado. Se considerarmos os investimentos como a sementeira; a selecção de recursos humanos como a escolha de sementes promissoras; e as condições adequadas como tudo o que as sementes precisam para se motivar e desabrochar, decerto que as sementes darão em quantidade e qualidade o retorno esperado.

A falta de diferenciação num mercado provoca geralmente ajustamentos a prazo. Se a vantagem competitiva das empresas é similar - baixo custo obtido por falta de investimento nas sementes, nas condições e violando a legislação aplicável, deixa de existir uma vantagem competitiva, e apenas uma pode ser a que apresenta soluções mais económicas para o mercado.

Este baixo custo a prazo, desprestigia a actividade, o que faz com que haja empresas que não sendo geridas por designers e que comercializam outros bens e serviços que não resultam directamente da actividade de design, tornem oferta o que é objecto de uma profissão.

A busca de jovens estagiários que iludidos pela obtenção de experiência profissional, que se sujeitam a condições de trabalho que desvalorizam os seus conhecimentos, e assim que o estágio termina, são despejados para o desemprego (onde sempre estiveram) para procurar novamente um trabalho, já com uma nota de despejo no currículo, terá de terminar. Até parece que não sofreram já a triagem do ensino superior, e claro que precisam de experiência como em qualquer actividade, daí a sementeira.

Situações de jovens que saem aos magotes das universidades (1600 em 2006) para um mercado onde já se encontram actualmente cerca de 19600 profissionais (dados da DGES), que seguem como estagiários despejados com os seus computadores pessoais, com software pirata, e desvalorizando o esforço que fizeram ao prosseguir os seus estudos.

Por outro lado, as empresas estão num momento de purga. As práticas de "dumping" que não são de todo denunciadas e fiscalizadas por nenhuma entidade, e que deveriam ser pelas autoridades mediante denúncias, pois são de tal forma evidentes que começa a ser estranho não o serem.

Os preços praticados, não reflectem pelo menos os custos que acarretam, e seria muito fácil desmontar sectores inteiros que lucram o que entendem pois os seus custos não são considerados nem existem nos preços que praticam.

Assim, diversas casas dão a sua chancela a trabalhos de estagiários feitos sobre computadores carregados de software pirata, apresentam já um sem número de práticas ilegais, não só do código do trabalho, assim como do código do direito de autor, e do código de actividades comerciais.

Algumas (muitas) empresas de dimensão considerável no mercado, já perceberam que a "chico-espertice" nacional, já não é vantagem competitiva, e só se está a traduzir em altos custos em todos os trabalhos de adjudicação directa, que são a forma de financiar a participação nos concursos abertos a toda a gente, em que em n empresas participam, com k horas de trabalho, para receber um improvável retorno y. Ou seja n*k=y nunca será condição verdadeira.

A ineficiência do sector é evidente devido a este tipo de práticas, é um sector desprestigiado, desunido como nenhum outro, num mercado de "vale mesmo tudo", e que se prepara para entregar o ouro ao bandido, ou seja, aos clientes.

Assim é expectável que o "1º Encontro de Empresas de Design" seja pelo menos uma sessão colectiva de reconhecimento destas questões, e que de lá saia pelo menos o compromisso de se concorrer de forma leal no mercado, cumprindo toda a legislação em vigor e, quem sabe uma entidade disciplinadora (que ao nível empresarial não tem qualquer valor jurídico - não me recordo de entidades associativas privadas que o possam fazer, sem ser na base da denúncia para as autoridades de práticas de concorrência desleal, por violação da legislação).

Mais interessante seria que em bloco todas as empresas presentes assumissem que só contratam profissionais que assinassem um determinado código de ética, de deontologia profissional, ou de conduta, ou que todos os designers fossem obrigados a obterem uma carteira profissional, seja por restrições ao registo de insígnias distintivas e de desenhos ou modelos comunitários só por designers com carteira profissional, seja por uma auto regulação dos profissionais atribuída pelos órgãos legisladores.

Vamos ver qual destas opções serão tomadas, a bem de um mercado do design são em Portugal.

Os investimentos de hoje são o retorno de amanhã.

sábado, fevereiro 24, 2007

Afinal para que é que o design serve?

Sabemos todos o papel que a diferenciação através do design pode dar aos produtos de uma empresa, nos resultados da empresa e consequentemente no PIB dum país em que a maioria das empresas se socorre de design, praticado por profissionais licenciados, mestrados e doutorados.

É uma prática contrária à concorrência por baixo preço que todos sabemos que progride por reduções de custos operacionais e que no limite apenas a organização óptima sairá vencedora até que uma outra organização óptima num país com menos exigências sociais e custos salariais a destrone e a coloque sem vantagem competitiva e a caminho da falência. É este a constante do paradigma que temos assistido na maioria das empresas nacionais, e que está bem traduzida nos indicadores de exportação de valor face a volume, na ineficiência da importação de matérias e na exportação de produtos. Sem produtos novos constantemente não poderemos auspiciar taxas de crescimento para além das que temos.

A mudança constante dos produtos, para além de gerar valor, dificulta a cópia por parte das empresas de países com custos menores. Temos de instituir uma cultura de criar valor através do desenvolvimento de novos produtos, garantido o seu registo e assim a exclusividade de uso, e dificultar a vida às empresas que copiem.

Já vimos pelos variados prémios que o design português tem atingido (a Galp fornece e distribui combustíveis, não concebe bilhas) e irá continuar a acumular e cada vez mais a vender trabalho de concepção para fora.

O design é um instrumento estratégico de crescimento macroeconómico que, com uma metodologia criativa de desenvolvimento e promovendo a mudança, permite reduzir ineficiências, acumular valor num produto, diferenciá-lo face à concorrência, de uma forma sustentável, e traduzindo nos resultados a cultura da envolvente indo ao encontro das expectativas que o utilizador ou mercado ambicionam.

O designer é o agente que promove o design. Faz com que o design aconteça.

O design é um dos sectores que mais tem crescido nos últimos 30 anos (que coincidem com a existência de cursos e do associativismo), seja em volume seja em valor, seja na quantidade de agentes, e não pode continuar a ser negligenciado ou interpretado de forma leviana. Tem que ser analisado pelos especialistas no campo.

A taxa de crescimento de licenciados tem sido de 9% ao ano desde 1990, tendo sido formados 11932 designers (MCTES-DGES) e estimamos que hajam 18000 profissionais no mercado de trabalho. Contudo se olharmos para os indicadores de resultados, nem em Patentes, nem em Marcas, nem em Desenhos e Modelos atingimos os valores das economias que crescem e que gostaríamos de atingir.

Assim, é importante salientar junto dos agentes económicos, empresas organismos públicos e privados que o design é um grande motor de inovação ainda pouco utilizado em Portugal, mas que cada vez mais carece de investimento.

Acreditamos que será um bom investimento!

sábado, fevereiro 17, 2007

É o design!! Estúpido!

Pois é, mais uma vez, a imensidão do país enorme chamado República do Estrangeiro, reconhece as melhores práticas de nível mundial. Os portugueses, em particular os empresários, têm vergonha de dizer que Made in Portugal é bom, mas depois é alguém de fora que o afirma perentoriamente. Mas vamos analisar.

Porque é que o "Made in Portugal" não traz valor? Será porque durante anos a fio a estratégia de inovação ou de mudança de grande parte das empresas nacionais era copiar literalmente produtos concebidos pelas concorrentes internacionais, produzindo o mesmo a um valor menor? Ou será que seria por cada produto produzido em Portugal se apresentar sempre como um bom compromisso preço/qualidade para reproduzir produtos já correntes no mercado internacional?

É que anos e anos a apresentar as empresas e os produtos nestes termos tem os seus custos, e ainda mais porque a mudança de imagem leva muito tempo e ainda mais investimento. Terá mesmo de ser feita. Como?

Através dos centros de decisão! Os centros de decisão nacionais necessários não são os centros de gestão, todos podem ser bons gestores face a bons produtos, produzidos a custos baixos e com enorme valor incutido.

O valor retido por uma empresa pode ser medido em Produtividade (Outputs/Inputs), pelo ROI (Lucro/Investimento ou mais detalhado Lucro Líquido/Vendas*Vendas/Activos), pela Inovação (Valor/Mudança), pela Eficiência (Recursos obtidos/Recursos empregues), ou pelo Lucro Bruto (Receitas/Despesas). Independentemente, uma actividade que tende a reduzir custos variáveis, e que aumenta a percepção do utilizador/consumidor do produto dos benefícios do produto, seja do ponto de vista do desempenho, seja pelo nível de desejo proporcionado, será sempre a actividade estratégica do negócio.

Assim, como empresários, podemos continuar a ignorar uma actividade fundamental para alavancar ganhos de rentabilidade e de imagem?

É escusado responder. O importante é referir que o design carece de conhecimentos de elevado nível, associados a uma grande experiência "on-job" para poder ser gerido adequadamente ou de forma eficaz. Não se pode permitir gestão amadora ou pouco profissional duma área fundamental para a boa saúde do negócio.

Apenas uma empresa pode ser a mais barata, e apenas outra poderá ser a que tem melhores níveis tecnológicos, todas as outras terão de se posicionar pelo design.

Assim, é prevísivel uma corrida aos quadros superiores experimentados na gestão do design, no sentido de dotar as empresas nacionais de centros de decisão estratégica, baseados no princípio da gestão da mudança do mais importante activo duma organização, a percepção que o cliente tem da organização e dos seus produtos.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Quem é que sabe consumir?

O design é fundamental para um são desenvolvimento económico, contribuindo para distinguir, criar identidade, criar carisma, aos produtos, serviços e marcas, garantindo um retorno mais eficaz do investimento, através duma positiva imagem junto do utilizador que é o principal activo de uma organização.

Não podemos permitir que os designers, os profissionais por excelência que atribuem uma dimensão humana aos objectos ou signos, não efectuem o seu principal investimento no sentido de melhorar a relação entre as pessoas e as coisas, entre as pessoas e as mensagens, entre as pessoas e as pessoas.

Actualmente, a cultura material que deveria ser uma constante na sociedade de consumo, apresenta-se num grave défice, havendo uma falta de conhecimento sobre as coisas, sobre como funcionam, para que servem, quais as mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental, havendo ainda por cima uma teimosia de conhecimento argumentativo que se traduz em ignorantes classificações dos objectos.

Nos três pilares do conhecimento, o ouvir/falar, o pensar/deduzir, o ver/conceber, apenas dois são considerados fundamentais na educação dos nossos jovens, contribuindo assim para uma calamidade do ponto de vista do consumo.

É que consumir é realmente uma coisa que não se ensina, mas que se aprende, e que poucos sabem.

Trabalhar por mim ou por conta de outrém?

O mercado de trabalho em design é extremamente flexível. Cada vez há menos empregos para toda a vida, e a dinâmica de rotatividade é fundamental para manter o espírito fresco.

Com o mercado orientado para os trabalhadores independentes, com cada vez mais empresas a reduzirem e a colocarem o mais possível as actividades em "outsourcing", surgem grandes oportunidades para os designers se mostrarem empreendedores e assim conseguirem uma regularidade de trabalho que já não se encontra com facilidade no trabalho por conta de outrém.

O próprio estado, como grande empregador que sempre foi, cada vez mais irá abdicar de recorrer a contratações, passando a adjudicar serviços externamente, seja a agências, seja a trabalhadores independentes.

O risco actualmente acaba por ser igual ou inferior entre trabalhar por conta própria ou por conta de outrém, logo cada vez mais na escolha entre ser patrão ou ser empregado, acaba por ser previligiado o ser patrão.

Numa fase em que Portugal procura subir na cadeia de valor, as actividades criativas são fundamentais, não como valor acrescentado, mas como valor em si mesmo.

O que nos diz a investigação, é que a tecnologia quanto mais madura e difundida está, maior a dificuldade em diferenciar os produtos ou serviços, especialmente através da exclusividade tecnológica. Sendo certo que apenas um competidor se diferencia por apresentar custos mais reduzidos e um outro por apresentar maior qualidade ou desempenho, todos os outros terão de investir num carisma próprio, geralmente denominado por "marca", mas que é criado artificialmente através de detalhadas especificações de desenvolvimento atribuídas ao designer.

A marca carece de um investimento continuado, cultivado, podado, para que possa dar frutos. Esta será tanto mais distinta quanto maior a sua diferenciação.

Assim os designers deverão promover mesmo como empreendedores uma pressão constante sobre o investimento nas marcas, garantindo assim o seu desenvolvimento e difusão.

São os designers que podem empreender e assim contribuir para a subida económica que tanto aguardamos, com a sua motivação para criar e desenvolver novas formas de estar.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Finalmente existem designers em Portugal

É com grande satisfação profissional que escrevo as linhas abaixo!

Ao fim de 30 anos de existência da APD e 33 dos cursos de design, finalmente o estado assume que existem profissionais de design em exercício em Portugal.

A Assembleia da República Portuguesa aprovou a colocação para o ano de 2007 da profissão de designer com o código 1336 no Código do IRS (art. 151º).

Na calha também já está um CAE (Código de Actividade Económica) específico para a actividade de Design (74100 - Actividades de Design) que permitirá a constituição de empresas do sector em Portugal especificamente para esta actividade.

A Classificação Nacional de Profissões (CNP) gerida pelo IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) também está praticamente pronta e irá sair em breve com o código 2456 - Designers.

Isto diz claramente do interesse que o sector tem para o estado e para Portugal e da aposta forte que Portugal faz nos designers.

Não seria possível outro caminho.

Tendo em conta que existem 88 cursos de Design em Portugal, dos quais 3 são bacharelatos, 16 são bacharelatos+licenciaturas, 41 são licenciaturas, 8 pós-graduações, 16 mestrados e 4 são doutoramentos. Tendo em conta que destes 88, 63 foram inaugurados desde 1996 (71,6%).

Destes 88 cursos , 24 (27,3%) são de Design Industrial (ou produto, ou equipamento); 6 (6,8%) são de Design de ambientes, interiores e iluminação; 19 (21,6%) são de Design Gráfico, de comunicação ou visual; 8 (9,1%) são de Webdesign ou multimédia; 4 (4,5%) são de design têxtil ou de moda; 12 (13,6%) são de "design"só e apenas; e dentro do campo ainda mais 15 (17%) em outras actividades diversas mas também do campo.

Considerando que desde 1994 foram abertas 28007 vagas (17236 - Público; 10771 - Privado) em cursos superiores de design (crescimento anual médio de 11%) - para termos uma noção de escala em Arquitectura foram 21411 com os mesmos critérios no mesmo período; neste período foram formados 11932 designers (7837 arquitectos) tendo o sector disponível anualmente em média 994 designers neste período.

Existem 35 designações diferentes dos cursos (bastam 6 ou 7) e estima-se que estejam no activo cerca de 18000 profissionais (considerando que entre 1976 e 1994 tenham saído para o mercado 6000 profissionais).

A este ritmo seremos 38000 em 2016 pois em 2006 irão sair 1600 diplomados.

(FONTE: MCTES - DGES).

Assim está visto que é um sector em crescimento, que traz mais valias ao país consideráveis ao nível do reconhecimento e imagem dos nossos produtos, empresas e marcas e que de facto tem uma grande eficiência pois é uma actividade que por si só não consome recursos como a indústria e o turismo, as pescas e a agricultura, adicionando valor com poucos inputs.

É um sector que dinamiza as empresas e traz por si só inovação e que decerto, face ao talento e aos prestigiados prémios já angariados pelos designers portugueses, nos dará imensos benefícios.

Parabéns a todos os designers. Força e motivação para todos para podermos ajudar o país!

sábado, novembro 04, 2006

Mais Inovação nas Nossas Empresas.

Segundo vários estudos recentemente publicados, Portugal apresenta claramente um défice de investimento e aplicação de investigação e desenvolvimento, nomeadamente no sector empresarial.

Três estudos em particular, dois sobre rankings de empresas (“Department of Trade and Industry, DTI” do Reino Unido (RU) intitulado “R&D Scoreboard 2004” que identifica as principais empresas que desenvolvem actividades de I&D no RU, e “Monitoring Industrial Research: the 2004 EU Industrial R&D Investment Scoreboard”) e outro intitulado “European Innovation Scoreboard (EIS) 2004, Comparative Analysis of Innovation Performance” publicado pela União Europeia (que analisa a performance dos países europeus, a 15, a 25, e com os EUA e o Japão e alguns países da Europa, não pertencentes à EU), não apresentam boas perspectivas para Portugal.

De facto, não há nem uma única empresa portuguesa no Top 700 em I&D (Scoreboard do RU), nem no TOP 500 da UE, mas também é necessário frisar que, das empresas que lideram em I&D, 85% são oriundas de cinco países, EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido (Scoreboard do RU). Outros aspectos menos positivos são a pequena quantidade de patentes apresentadas por Portugal, facto também revelado no estudo da EU e o fraco desempenho em termos educativos dos recursos humanos nacionais.

Segundo a Estratégia de Lisboa, resultante do Conselho Europeu de Lisboa em Março de 2000, é necessário recorrer a uma reformulação de todas as macro políticas no sentido de caminharmos para este tipo de economia. Foram aí definidos objectivos claros da União Europeia, até 2010, na senda pela liderança da economia que se apresenta como crucial no séc. XXI, a Economia do Conhecimento.

Partindo também de um pressuposto positivista, Portugal para continuar a crescer, terá que caminhar no sentido de competir cada vez mais com os países que estão no Top 25 mundial em desenvolvimento e produtividade.

Assim, como afirma Lord Sainsbury of Turville, Parliamentary Under Secretary of State for Science and Innovation, do RU, “a Inovação é o coração do crescimento da produtividade, e a Investigação e Desenvolvimento são dois factores-chave da Inovação.” ( in R&D Scoreboard, 2004:16).

Ou seja, cada vez mais é necessário que as empresas portuguesas desenvolvam produtos recorrendo a tecnologia desenvolvida pelos centros de investigação, Laboratórios do Estado e Universidades, ou mesmo solicitando investigação específica para utilização nesses produtos ou no seu processamento.

Para isto deverão criar mecanismos de comunicação com os Centros de Investigação para poderem proceder ao desenvolvimento e comercialização dessas novas tecnologias. Terão que contar com interlocutores com formação em transferência de tecnologia que dominem estes processos. Estes poderão ser contratados para os quadros das empresas ou ocasionalmente como consultores.

Deverão também contar com centros de pesquisa de mercado para que estes avaliem as necessidades de futuro próximo dos mercados que se determinem como destinatários dos seus produtos, para poderem orientar correctamente o desenvolvimento dos novos produtos.

É certo que apenas surgirão patentes se houver interesse de aplicação comercial de novas tecnologias e soluções. Ou seja, também os centros de investigação devem orientar a sua actividade com vista à aplicação comercial de parte dos seus desenvolvimentos, podendo inclusive assim usufruir de mais financiamentos dando prioridade para as tecnologias mais urgentes.

Novos investimentos nos recursos humanos, na criação de novo conhecimento, na transmissão e aplicação desse conhecimento, são fundamentais para alcançarmos estes objectivos assumidos pela UE em Lisboa.

domingo, outubro 08, 2006

Os Designers são empreendedores?

O empreendedorismo é outra área que toda a gente menciona como fundamental para a criação de emprego e de crescimento.

Entendemos por empreendedorismo o fenómeno que leva indivíduos e organizações a lançarem actividades (económicas ou não) que se traduzam em benefícios para a sociedade em geral. É o que dá origem às empresas!

Ora em final de 1999 o Centro Português de Design, no seu "Observar o Design" constata que 66% dos Designers trabalha por conta própria, sendo que destes 32% numa empresa de design.

Qual a área de actividade profissional isto sucede?

Mesmo quando um designer chega a uma organização, especialmente se esta não fôr da área do design, este tem de manifestar a sua grande vontade de mudança à organização, educando toda a organização de forma a que esta fique sensível às necessidades de mudança de hábitos que os designers tentam regularmente incutir.

Temos cerca de 2100 designers a entrar actualmente em cursos superiores, temos cerca de 25 000 designers profissionais em actividade.

Se calhar temos um cluster nacional de design em que não estamos a promover nem a apoiar o seu desenvolvimento, mas que apesar das contrariedades se desenvolve, cresce e apresenta índices de produtividade elevados.

Estes jovens "freelancers" são o futuro e devem ser apoiados.

Devem também eles candidatar-se a apoios, e existem diversas organizações que os podem ajudar a desenvolver os seus negócios e a empreenderem novas actividades que criem emprego, não só para os designers para para a sociedade em geral.

Vamos ver como se vai desenvolver!

Inovação é o nosso modo de vida!

A Inovação está na ordem do dia!

Este neomodismo (ou chavão) está cada vez mais presente na literatura periódica e não periódica.

Mas apesar de cada vez mais se produzir investigação sobre o tema, ainda não estão bem definidas as linhas para a sociedade em geral.

Entendemos a Inovação como a mudança donde se retira valor, sendo que a mudança poderá ser num produto, num processo, numa organização, na cultura, legal etc. o que faz desta algo de transversal à nossa sociedade. O valor por outro lado pode ser ecológico, económico, social, cultural etc.

A Inovação é constante!

Tudo muda constantemente, se há algo que permanece é a mudança.

À constatação de que esta mudança ocorre e ao facto de podermos usufruir positivamente dela convencionou-se denominar de Inovação.

Cada vez mais intervenientes dão à Inovação o mérito pelo crescimento económico, pelas melhorias de condições de vida, por uma sociedade mais equilibrada e justa. Noutros tempos chamar-se-ia revolução a este processo, sendo que este termo tem mais carga política que o corrente Inovação.

A Inovação é de todos!

Mas há aqueles que fazem desta o seu modo de vida. E nestes estão inequivocamente os designers. Oriundos dos meandros dois grandes corpos da cultura, a Arte e a Ciência (ou Técnica como diria Francastel) os Designers regem-se por modelos de processo oriundos da Arte e da Técnica. Ora a Arte nunca se repete, sendo o princípio de vanguarda artística um princípio fundamental na evolução artística e a evolução científica outra verdade incontestável que leva à superação constante dos princípios anteriormente aceites como verdades, o Design enquanto campo do conhecimento usufrui destas duas vertentes de desenvolvimento ou motores de mudança que raramente permitem ao Design (ou Designer) surgir como algo recorrente ou repetente.

Inovação é o nosso modo de vida!

Nós os designers somos inovadores por definição. Lutamos contra a manutenção do mundo como está, propomos constantes revoluções, e sentimos-nos inibidos em avançar mais rapidamente pois a inércia cultural e social não negativa, mas existente reduz a capacidade de absorção de novidades mais rapidamente.

Todos se queixam da dificuldade de produzir Inovações Radicais, isto é, as que mudam completamente de paradigma, limitando-se às Inovações Incrementais, ou seja, melhorias constantes dentro do mesmo paradigma. Os designers com facilidade podem produzir este tipo de Inovações Radicais, sendo este o seu principal modo de vida. Um designer fica frustrado se o impedem de inovar!

Mais designers a inovar!

Assim com a integração de designers nas organizações seja ao nível operacional, como ao nível táctico e ao nível estratégico poderemos obter grandes vantagens competitivas sobre as organizações que não o façam. Os designers não devem servir para que as organizações atinjam objectivos do Marketing ou da Engenharia ou de outra qualquer área, mas sim para que as organizações inovem, mudem, e retirem valor desta mudança. E acreditamos que só com um grau de independência o Design se pode mostrar como gerador de mudança. Defendemos o CED (Chief Executive Designer) nas organizações como forma de alavancar mais rapidamente estas mudanças. Uma voz ao mais alto nível numa organização demonstrando as vantagens do design enquanto ferramenta de diferenciação, pode impulsionar essa organização para um nível muito acima do da competitividade económica.

O tempo o confirmará!

quinta-feira, setembro 21, 2006

Quanto mais se baixa as calças....

... mais se vê o rabo.

Esta é a máxima para a concorrência desleal.

Em Portugal, está instituída uma cultura de borlas para trabalhos de Design. Os contratantes entendem que não devem pagar por estes serviços.

Se em relação ao Design 3D se consegue de alguma forma argumentar, em relação ao Design 2D as coisas complicam-se. Ninguém quer compreender que leva tempo desenvolver soluções, que estas são desenvolvidas como actividade profissional, utilizando software que alguém terá que pagar, e que a alternativa é vender papel tingido monocromático, pois daí para a frente apenas o designer é o profissional habilitado a trabalhar.

Acredito que a principal culpa desta situação não é dos clientes de design, mas dos próprios designers, por não conseguirem argumentar junto dos clientes. Os clientes limitam-se a defender da melhor forma que conseguirem os seus interesses, ao contrário da maioria dos designers.

Há uma prática de mercado comum e criminosa (punida por lei) de "Dumping", literalmente despejo para o mercado a baixos preços.

Porquê estes baixos preços? Os jovens licenciados na expectativa de acumular currículo trabalham quase pagando, para mais tarde usufruirem desta experiência acumulada. Talvez porque gostam do que fazem e não se importam de o fazer de borla. Recordo que logo à entrada o IEFP ajuda a garantir um salário de dois ordenados mínimos nacionais para licenciados.

Saem da Faculdade para estágios, os que se fartam dos estágios lançam empresas onde colocam estagiários...

Outra prática corrente é os recibos verdes. Não há alternativa para muitos profissionais. O problema é que muitos se esquecem que têm de declarar eles próprios para a Segurança Social, ficando numa situação precária sem quaisquer direitos e em caso de azares, enfim.

Agora voltando às entidades patronais, esquecem que as coisas levam tempo a fazer e assumem compromissos impossíveis. Mais uma vez a diferenciação do mercado é feita à custa dos designers que têm de trabalhar dia e noite para cumprirem prazos impossíveis. Para estes prazos serem cumpridos, a empresa de design teria de ter uma disponibilidade de meios que tornariam inviável esta rapidez de serviço.

Não há empresa de design em Portugal que não use computadores e software para o seu trabalho. É óbvio o nº de licenças piratas que para aí andam. Quem não paga licenças também não cobra para licenças.

Dados estes pressupostos, vemos claramente porque surgem os preços baixos que prejudicam essencialmente os designers.

A grande maioria não calcula preços de custo e preços de venda, não calculando preços de custo muitos pagam para trabalhar, e passam por incompetentes por não o fazerem.

Aparecem em reuniões com trabalhos e sem preços ou preços dados a olho, não negoceiam e acabam muitas vezes por apresentar o mesmo trabalho por metade do preço se o cliente insistir.

Regra geral, não se salvaguardam com cláusulas de confidencialidade, não fazem cadernos de encargos (briefing), não identificam todas as artes finais com a autoria, não registam nem tiram partido comercial do registo, entregam as artes em formatos editáveis sem receberem os valores acordados, raramente pedem entradas para iniciar os trabalhos.

Têm receio de perder clientes? Então mas todas as actividades também têm receio de perder clientes. Clientes assim que fiquem para a concorrência. Se a concorrência ficar com eles rapidamente terão um negócio insustentável.

Qualquer marca automóvel por cada hora de manutenção num veículo cobra acima dos 30 € por hora. E quem pode falar de falta de concorrência no sector automóvel? Simplesmente limitam-se a cumprir a lei e a cobrar em função dos custos que têm, e facturam.

Antes não trabalhar que trabalhar para aquecer.

Abram os olhos e valorizem o trabalho de Design!

domingo, setembro 10, 2006

Formação desajustada!

Os cursos em Design em Portugal têm crescido como cogumelos. Está na moda ter um curso de design na lista de cursos das Universidades e Politécnicos.

Se olharmos para o nº de doutorados e mestrados em design que leccionam nestes cursos temos uma pequena ideia do que vai mal no ensino do design. Apesar da situação estar gradualmente a ser invertida, ainda há poucos mestres e doutores em design a formar e a coordenar os cursos. Mesmo estes têm uma prática profissional pouco consistente ou inexistente para a poderem transmitir aos seus alunos.

Os problemas são de variadíssima ordem, desde falta de professores com formação adequada, conteúdos desajustados, coordenadores inadequados, exageradas designações de cursos, falta de condições, falta de alunos, inadequação dos cursos colocados em regiões inapropriadas, de entre muitos outros.

Nós temos mais designações de cursos e Universidades e Politécnicos do que (apenas como exemplo) Espanha. Um estudo apontou cerca de 1200 para 300 (estou a citar de memória) designações de Portugal e Espanha respectivamente.

Creio que uma preocupação nossa é o facto de apenas 1% dos mestrados criarem empresas em Portugal enquanto que em média anda nos 10% nos nossos parceiros Europeus e da OCDE.

Conclusão: Fazem-se maioritariamente mestrados de Hobies em Portugal, em vez de prepararem os mestrandos para o empreendedorismo e criação de riqueza e de emprego (mais uma questão que ainda não estamos preparados para responder).

Não podemos esquecer que o problema da pobreza que nos aflige deve-se muito à falta de emprego, e que esta se deve à falta de crescimento, que se deve à falta de actividades de maior valor acrescentado produzido não pelo estado mas pelas empresas, que neste momento são maioritariamente geridas por pessoas pouco qualificadas para o efeito, que gerem negócios pouco diferenciados.

Precisamos de empreendedores de empresas de elevado valor acrescentado. Ver o que a organização britânica "Designtrust" fez para aumentar o nº de empreendedores designers no reino unido.

É este o principal motivo que me leva a escrever este Blog e a colaborar activamente pelo Design em Portugal. É por acreditar que o Design enquanto motor de inovação pode gerar diferenciação nos nossos produtos, criar mais valor, gerar crescimento e emprego nas nossas empresas e por acreditar que podemos melhorar o bem estar geral.

Vejamos como os sponsers da selecção alemã no Mundial são: Mercedes Benz e Adidas, duas marcas que muito fizeram para colocar a Alemanha no nível actual de riqueza. Vejamos como é o mobiliário quando fala o governo alemão (é todo Made in Italy, pois claro!). Vejamos como o nosso Sócrates usa Armani .... (eu enquanto desempregado do sector têxtil nacional não tinha remorsos de lhe mandar uma tarte de nata se pudesse).

Os países mais desenvolvidos têm políticas nacionais concertadas e utilizam o design como ferramenta estratégica de desenvolvimento! Nós só temos de demonstrar isto ao governo e pedir que assim seja no nosso país também.

Sem os macromecanismos de ajuste que tínhamos antes do Euro como a emissão de moeda para baixar o valor dos nossos produtos, bem como a emissão de títulos do tesouro estamos mal.

Temos de usar o que temos para gerar riqueza e temos muita criatividade e capacidade de inovação desaproveitada!

sábado, setembro 02, 2006

Ordem no Design

Desde a institucionalização dos cursos pioneiros de Design em Portugal e o dia de hoje, já decorreram quase três decénios. Assim não se pode falar da problemática de uma profissão nova, mas de uma velha actividade que entre nós nunca foi definida em concreto, isto é, nunca foi aos olhos dos agentes legisladores devidamente enquadrada.

O sector do Design ainda sofre diariamente por parte dos órgãos de comunicação social e não só, do complexo de estrangeirismo inerente à sua designação entre nós (o que não sucedeu com nuestros hermanos que distinguem entre diseño e dibujo).

Talvez seja necessário aportuguesar a palavra “design”, para outra como por exemplo “dezaine”, e inerentemente “designer” para “dezaineiro” ou “desainecto” ou “dezainante”. Isto sucedeu a outras como “bidet” para “bidé” ou “briefing” para “brifingue”. Isto não é desrespeitar a língua de Camões e Pessoa, mas simplesmente deixar evoluir fluentemente a língua como tem sucedido com a linguagem humana. Devo recordar que há bem pouco tempo “Farmácia” se escrevia “Pharmácia”, e “Águas” respectivamente “Agoas”, e não deixou de se perceber o seu sentido enquanto “coisa”. Mas de referir que design é um substantivo e não um adjectivo, como diariamente o vemos tanto na imprensa como utilizados pelos criativos de agências publicitárias. Não se deve dizer “com mais design” ou “cheio de design”, uma vez que tudo o que é “design” ou foi alvo de projecto e estudo de forma organizada, ou simplesmente foi efectuado sem esta organização típica dos profissionais.

Linguística em diante, existem aos olhos destes agentes algumas situações em que design foi definido em diplomas oficiais. Por exemplo, os Estatutos do CPD, a aprovação de diversas licenciaturas, etc. Assim não se pode falar de um desconhecimento do campo.

Ora num período em que tanto se fala de uma crise estrutural (e não conjuntural) no nosso país, é de estranhar que ainda se fale em captar o investimento estrangeiro (esperemos que não de multinacionais em busca de mão de obra barata, que assim que encontrarem uma melhor proposta se deslocalizam), e não se entenda que para Portugal equilibrar contas deve exportar, e quanto mais melhor, produtos da tecnologia nacional, e de identidade nacional, e não meras réplicas das feiras internacionais.

É aqui que nós, Designers, devemos prestar a nossa contribuição para o evoluir da nossa sociedade na era da globalização.

É aqui que nós contribuímos para a construção social, prestamos o nosso serviço público, pagamos a dívida que temos perante o estado que nos tem financiado os estudos.

Todos estamos de acordo que a nossa sociedade actual é assumidamente materialista. Logo devemos apostar naquilo que as pessoas sempre necessitarão. Produtos materiais, serviços rápidos e eficientes.

Como pode uma empresa prestar um serviço ao cliente positivo, se nos seus centros de decisão ninguém tem formação ao nível de licenciatura, mestrado ou doutoramento (como acontece nas grandes multinacionais que tão bem exploram a mão de obra barata disponibilizada por subempreiteiros sem escrúpulos de países terceiro mundistas, países em vias de desenvolvimento, ou de periferia) para opinar acerca dos produtos que a empresa vende. Ou continuaremos a assistir ao comentário “azul não, que eu não sou do Porto” ou “nunca gostei de verde”, por parte de administradores ou gestores de topo.

Temos de apostar em novas empresas de investigação e desenvolvimento cuja área de actividade não está na produção industrial, mas nos órgãos de decisão de produtos a produzir, na gestão da complexa logística da produção em massa, na formação de técnicos especializados, e de controlo de qualidade das empresas que prestam serviços de fornecimento de componentes dos produtos finais.

O que se pedem são novas empresas que tenham como principais actividades a investigação direccionada, a concepção e integração, o estudo da viabilidade, a implementação e distribuição. Estas é que são as empresas da globalização actual, as empresas motor na economia do G7.

Daí a importância do que se nos avizinha.

A desorganização e a pouca importância atribuída ao Design actualmente em Portugal tem de terminar.

Até agora o elo mais fraco entre as instituições tem sido o dos Profissionais. Vamos ver se ganham maturidade para reconhecerem a necessidade de em conjunto se organizarem e demonstrarem estas incumbências, aos órgãos legisladores e à sociedade nacional em geral.

domingo, agosto 27, 2006

Planear o Design em Portugal

Decidi publicar este meu texto de 2002 como ponto de partida para os posts que se seguem.

"É certo, para todos os intervenientes do Design em Portugal, que a área não se tem vindo a assumir com a preponderância que seria necessária e desejável. Das escolas saem cada vez mais licenciados, para um mercado de trabalho que teima em não se alargar, onde os industriais cada vez mais investem naquilo que sentem que lhes faz falta, mas que nem sempre se traduz em algo mais do que investimentos vãos.

As associações industriais dos vários sectores apostam em centros de investigação conjuntos, pagam fortunas para apostar numa qualidade virada para eles mesmos. Isto é, quando se fala que tem de se apostar cada vez mais na qualidade, as empresas procuram certificar, não os produtos que produzem cuja qualidade só pode ser atribuída pelos Designers, mas sim os seus processos produtivos para que possam ostentar um reconhecimento por uma instituição que não deriva do consumidor mas sim do próprio mundo produtivo.


Portugal não pode continuar a posicionar-se pela mão-de-obra barata pois não poderá concorrer com os países que integram o grupo do alargamento. Logo as empresas portuguesas têm que apostar na qualidade, mas não nessa qualidade instituída, tem que apostar na qualidade intrínseca aos produtos, que deriva de um correcto processo de projecto, realizado por equipas lideradas por Designers.

Uma análise aprofundada mostrará que nos países com a economia mais pujante apenas são mantidos os cérebros das empresas, não a produção. É nesta qualidade do produto em si, fundamentalmente, e não tanto na qualidade dos processos de produção, que devemos evoluir para melhorar o produto final. A economia dos países mais ricos (ex: G7), com um forte peso na exportação nos bens de consumo baseia-se nestes pressupostos.

Diz-se há muito tempo que sem ovos não se fazem omoletas, como podemos desenvolvermos sem termos fundos para isso.
Não é com mais endividamento ao estrangeiro que se pode fazer esse desenvolvimento tão necessário para nos aproximarmos das metas Europeias.

Não, não somos um país pequeno.


Não, não somos um mercado pequeno.

Não, não somos um país de preguiçosos.

Poderia chamar exemplos de países mais pequenos e mais mal situados que são mais ricos, e produtivos que o nosso. O Luxemburgo com um grande número de portugueses é a economia mais produtiva da União Europeia. Made in Taiwan ou em qualquer outro país asiático sempre presente em tudo o que compramos. O Japão com tão poucos recursos naturais.

O mais difícil de ver é o que está à frente.


Temos um posicionamento geográfico extraordinário, pois somos o umbigo do mundo ocidental, muito por culpa dos timoneiros que tivemos e que agora nos faltam. Foram eles que deram ao mundo a disposição que hoje tem.

Todas as rotas de matéria-prima passam ao largo da nossa costa para irem para um qualquer país da Europa Central para que moldem essa matéria-prima para que seja distribuída de novo por todo mundo inclusive Portugal. Voltam os cargueiros a passar ao nosso largo.

A única coisa que se alterou nessa matéria foi a sua organização que passou para um bem de consumo. A este processo chamamos Design, materialização de ideias, isto é, transpor para a matéria a cultura, a tecnologia e os saberes desses países.


Já assim é desde os descobrimentos, pois muito embora os portugueses tenham encontrado o caminho marítimo para Índia, nunca fizeram o trabalho de casa tão explorado por Kant que encontrou o mundo sem sair da sua terra.

Temos cada vez mais gente à altura e ainda exportamos gente competente.
Podemos criar as infra-estruturas a isso necessárias, e mais do que isso utilizar as vias de um sentido que têm vindo a ser construídas não para importar, mas cada vez mais para transformar e exportar.


Terá sido um português que disse que Portugal seria um país sujeito ao turismo e aos serviços?

Qual é o país que sobrevive com uma economia forte com base nestes sectores?

Quantos países viram desbaratados os seus sectores piscatório e agrícola?

Quantos são os países lusófonos no mundo? E o potencial peso da sua economia?

E porque é que a França subsidia estudantes das suas ex-colónias, divulgando o francês como língua oficial?

Será para manter poder sobre elas? Não é a palavra mais forte que a espada.

O peso da Commonwelth não se tem vindo a alargar e a sobrepor ao da CPLP?

Não é a indústria musical e cinematográfica um veículo da propaganda norte americana que conseguiu concretizar o sonho de Hitler?

É necessária para Portugal uma estratégia global nacional para que nos possamos desenvolver."

Posto isto, tenho alguma esperança no plano da Estratégia de Lisboa e no Plano Tecnológico.

Estaremos cá para ver.

domingo, agosto 20, 2006

Para serve este Blog?

Será neste blog que farei o registo de diversas reflexões sobre a minha actividade profissional.

Sou designer.

Como designer, acredito que a minha profissão pode ajudar no desenvolvimento das sociedades.

Seja no desenvolvimento social ou cultural, económico e ecológico, seja na melhoria das condições de vida das pessoas.

Todos os artigos que serão publicados serão no sentido de melhorar e acelerar o desenvolvimento do design em Portugal, clarificando as diversas temáticas.

Tentarei nem que seja uma vez por semana colocar um artigo, muito embora nem sempre haja assuntos para esmiúçar e vontade de o fazer.

Um grande bem haja!